Cartaz eleitoral - Alegre
Manuel Alegre: "Livre. Justo. Fraterno - Portugal de todos"
"Fraterno" - O poeta apela ao sentimento, aos sentidos. Quer dar mimo aos portugueses e recuperar a moral através da retórica, do concílio "linguae". Tem como principal arma o verbo. Apresenta-se como o decano que, qual pai, tem uma atitude fraterna para com o eleitorado.Como se estivesse num plano superior.
"Livre" - Livre? Mas não o somos todos desde o 25 de Abril de 1974? Pelos vistos não. Aqui Alegre quer estabelecer a diferença com Mário Soares - que aos seus olhos e dos portugueses não socialistas está dependente e intimamente ligado à lógica partidária, à entourage socialista. Quantas vezes ouvimos dizer que Soares é "o candidato apoiado pelo PS"? Alegre, apesar de ganhar o ordenado de deputado eleito nas listas do PS de Sócrates e de reclamar o direito de, em determinada altura, ter sido o "escolhido" do secretário-geral socialista explora uma atitude anti-sistema. No fundo depende mas tenta apagar essa imagem com abstenções e faltas no plenário.O "livre " é isso mesmo. Mais não seja de espírito.
"Justo"? - É uma tirada populista.O que tem Alegre de mais justo que os outros candidatos? Justo, porquê? Porque enfrenta o seu próprio partido? Porque pede um empréstimo para poder fazer campanha? Porque tratará todos de igual modo? Justo é um conceito ambíguo. Trazê-lo à colação política é populismo. Puro.
"Portugal de todos" - Reforça uma evidência. Ou melhor, reforçá-la-ia se opinasse de forma sentida, desinteressada. Não é o caso. Diz que é de todos para mais uma vez combater a ideia daqueles que se julgam donos do País, da economia, da intervenção política, da esquerda, dos partidos. Numa só palavra: do eleitorado
O fundo do outdoor é azul, as letras brancas e o candidato ostenta uma gravata escura com riscas amarelas. Tem indicação da sua página de internet. Alegre apresenta um ar sereno, seguro. Contraria o perfil a que os portugueses se habituaram : impulsivo, sentimentalão, desbocado, inoportuno por vezes, poético. Errático.
O cartaz evidencia ainda duas coisas: Alegre explora até ao tutano a desavença que mantém com a estrutura dirigente socialista e com o seu amigo Mário Soares - é uma questão de sobrevivência, matar ou morrer politicamente. E guarda para si um lugar muito próprio na escala da moral e dos valores do país. Nas palavras do próprio: é "livre, justo e fraterno". Falta alguma humildade na mensagem política já que é sempre mais eficaz o eleitorado concluir que o candidato até é justo, livre e fraterno, sem que este o mencione, em causa própria.
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